Walt Whitman (1819 - 1892)

Walt Whitman (1819 - 1892)
(...) What do you see, Walt Whitman? Who are they you salute, and that one after another salute you? (...)

24 de maio de 2010

Jacarandás em flor



Nesta altura do ano adoro ver os Jacarandás em flor.
Não é uma árvore fácil de encontrar em Lisboa mas há um lugar, muito especial para mim, o jardim do Museu de Arte Antiga de Lisboa, onde os Jacarandás já estão em flor.
Este jardim é um lugar fantástico, aliás o próprio Museu povoa as minhas memórias, vista  privilegiada sobre o Tejo e  merece ser descoberto. Muitos de nós não sabem o quanto este Museu pode ser surpreendente.

Deixo aqui, em jeito de roteiro, alguns exemplos que justificam uma visita ao Museu de Arte Antiga de Lisboa:

Tentações de Santo Antão, Museu Nacional de Ar... 

Tentações de Santo Antão
Jheronymus Bosch (Hertogenbosch, 1450/60-1516)
Óleo sobre madeira de carvalho
A 131,5 x L 119 (painel central) e L 53 (paineis laterais) cm
Palácio das Necessidades, Lisboa, 1913
MNAA inv. 1498 Pint
Piso 1, sala 61




Tentações de Santo Antão, Museu Nacional de Ar...

Images by Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian - via Flickr.
Não consigo escrever neste post de hoje tudo o que merece ser dito sobre esta obra.
Será tarefa para outro dia. Tarefa que irá implicar tempo e um desenrolar de memórias muito importantes para mim.
No entanto, transcrevo aqui as anotações que podemos encontrar no próprio Museu de Arte Antiga:

"(...) Através de uma escrita pictural de múltiplos signos, esta impressionante obra traduz o medo e a inquietação que tocam a alma e a natureza humanas. Num espaço de vastidão que evolui desde os lugares subterrâneos até às regiões aéreas, as tábuas do tríptico estabelecem a progressão do caminho de Santo Antão. No centro da composição o santo olha para fora do quadro, olha para além do espaço de desordem que materializou em pintura os seres fantásticos que o povoam com o mesmo ímpeto com que atormentam o espírito. Recolhido no escuro e apontado pelo seu bordão, Cristo é o indelével sinal de uma luz redentora.

Poderosa súmula de pensamento que anuncia mudança, esta pintura organiza-se entre a obssessiva tradição medieval do registo minucioso e a modernidade com que se constrói um espaço global que explode em clarões e valores lumínicos que conferem unidade ao caos aparente. Aquém e além da linha do horizonte, as figuras surreais movem-se e esvoaçam num mundo de tormenta que tem o seu contraponto no Jardim das Delícias, outra obra máxima de Bosch que se encontra no Museu do Prado, em Madrid.
Uma inventada unidade do espaço integra as múltiplas cenas e narrativas que preenchem o painel central e os volantes laterais, território para um formigar de seres e de episódios que desafiam a nossa interpretação e que ocupam, literalmente, os quatro elementos do universo (céu, terra, água e fogo), matéria matricial da representação. Santo Antão divisa-se em três sequências da sua lendária experiência eremítica: à esquerda, agredido física e directamente pelos demónios que o elevam no ar e precipitam no solo; à direita, enfrentando a tentação da carne e o pecado da gula; a meio do painel central, sendo confrontado talvez com a maior de todas as tentações, a do abandono da Fé. Aí, no centro de tudo, no centro de um redemoinho diabólico, num espaço e num tempo invadido pelo mal, Santo Antão olha para nós e aponta para uma dupla representação de Cristo, figura e imagem refugiadas numa ruína.

A contemplação da peça não fica completa se não se virem as dramáticas “grisalhas”, no reverso dos painéis laterais, que nos mostram dois passos da Paixão de Cristo: a Prisão e o Caminho do Calvário no momento do encontro de Cristo com Santa Verónica. Ambas as cenas são marcadas pela violência e por um espaço desértico em primeiro plano, deserto que é lugar de cadáveres e de condenados, de morte e desolação, o que vem acentuar a mensagem pessimista, embora não desesperada, de todo o tríptico.


Incorporada no MNAA a partir do antigo palácio real das Necessidades, desconhecem-se as circunstâncias da chegada da obra a Portugal, não sendo certo que tenha feito parte da colecção do humanista Damião de Góis, como algumas vezes é referido.(...)"

Actualizado em: 26 de Novembro de 2008


Outras obras importantes,a ver de perto, são: 

Painéis de São Vicente

Nuno Gonçalves. Paineis de São Vicente de Fora Atribuídos a Nuno Gonçalves
(activo 1450-antes de 1491) 1470-80
Óleo (?) e têmpera sobre madeira de carvalho
Painel dos Frades – A 207,2 x L 64,2 cm
Painel dos Pescadores – A 207,2 x L 64,2 cm
Painel do Infante – A 206,4 x L 128 cm
Painel do Arcebispo – A 206 x L 128,3 cm
Painel dos Cavaleiros – A 206,6 x L 64,2 cm
Painel da Relíquia – A 206,5 x L 63,1 cm
Paço Patriarcal de São Vicente de Fora, Lisboa, 1916
MNAA inv. 1363, 1366, 1361, 1364, 1365, 1362 Pint

 
"(...)Nos seis painéis do Retábulo de São Vicente, atribuído a Nuno Gonçalves, pintor do rei D. Afonso V, revela-se um dos mais notáveis retratos colectivos da pintura europeia. Sendo este políptico fonte inesgotável de leituras e interpretações, um segmento considerável da recente historiografia concorda no facto da representação se centrar na Veneração a São Vicente no contexto das campanhas da Dinastia de Avis contra os mouros, em Marrocos.


A partir da simétrica representação de um santo diácono nas tábuas centrais – Painel do Infante e Painel do Arcebispo, a composição desenvolve-se para ambos os lados num esquema que vai contrapondo e alternando volumes, luz e cor sustentados por firme desenho. Na horizontal sucedem-se três planos que evoluem desde as figuras ajoelhadas até ao friso de múltiplas cabeças que remata a encenação, enquanto as linhas convergentes do mosaico do chão sublinham a construção perspética.

Reconhecem-se grupos sociais, nobres e cavaleiros, frades, clérigos e pescadores; distinguem-se trajes e tecidos; identifica-se a armaria e as jóias e examina-se a relíquia e os livros abertos. Nos rostos silenciosos e singulares de cada figura ou de cada grupo estampa-se a atmosfera de testemunho e devoção que envolve a serena dramatização que esta excepcional pintura invoca.
Estas seis pinturas atribuídas ao pintor régio de D. Afonso V (1432-1481), Nuno Gonçalves, redescobertas em 1882 no Paço Patriarcal de São Vicente de Fora e geralmente nomeadas segundo designações propostas em 1909 por José de Figueiredo ? painel dos Frades, dos Pescadores, do Infante, do Arcebispo, dos Cavaleiros e da Relíquia ? , constituem um conjunto excepcional tanto no quadro da arte portuguesa de todos os tempos como no contexto da grande pintura europeia do século XV. A sua apresentação segundo uma estrutura horizontal, articulada de acordo com a perspectiva dos ladrilhos que definem o pavimento e unificada pelo friso de cabeças ao longo da parte superior da composição, deve corresponder à sequência da disposição primitiva dos painéis, que originalmente estariam integrados no retábulo do Altar de São Vicente da capela-mor da Sé de Lisboa (c. 1470), tal como as outras duas pinturas expostas nesta sala inscrevendo passos dos martírios de São Vicente.

Os Painéis apresentam-nos um agrupamento de 58 personagens individualizadas em torno da dupla figuração de São Vicente, solene e monumental assembleia representativa da Corte e de vários estados da sociedade portuguesa da época, com destaque para a Cavalaria e para a Igreja nas suas diversas hierarquias, em acto de veneração ao patrono e inspirador da expansão militar quatrocentista no Magrebe. Tais personagens, em volumes claramente afirmados, tão humaníssima e poderosamente caracterizadas pela concentração expressiva dos rostos e atitudes como pela requintada definição pictórica dos trajes e seus adereços, parecem aliar, nesta encenação cerimonial, a intenção de uma evocação narrativa a uma visão contemplativa. Embora permaneça problemático, na ausência de testemunhos coetâneos à sua criação, o pleno entendimento da intenção e significado da obra, ela deve estar assim associada a uma dupla função, votiva e evocativa, dos triunfos guerreiros da dinastia de Avis no norte de África.

Singular “retrato colectivo” na história da pintura europeia, é uma obra de enorme importância simbólica na cultura portuguesa. Daí os desafios interpretativos que tem suscitado nomeadamente no domínio das identificações iconográficas, exercício mais ou menos imaginativo que tem alimentado uma polémica já secular e até ao momento inconclusiva."

Deixo aqui também o link para o site de Museu:





   http://www.mnarteantiga-ipmuseus.pt/



"Situado na rua das Janelas Verdes que faz ligação com o contíguo largo de Santos-o-Velho, a nascente, e com o sítio da Pampulha, a poente, da onomástica desta rua lhe vem o nome pelo qual é popularmente conhecido – o de Museu das Janelas Verdes. ...


... Característica artéria, ainda hoje semeada pela memória de antigos palácios, igrejas e conventos, convertidos na actualidade nos mais diversos fins, a sua localização, alcantilada sobre o rio e a zona portuária, confere-lhe uma envolvência cenográfica invejável.

A meio da rua, frente à primitiva entrada principal do museu, abre-se um pequeno largo de planta em U, denominado largo do Dr. José de Figueiredo (primeiro director do Museu) cujo projecto é da responsabilidade de Reinaldo Manuel dos Santos (1731-1791), datável de 1778. Também de sua autoria é o desenho do pedestal do chafariz cuja parte superior recebe um grupo escultórico representando Vénus e Cupido, executado pelo escultor António Machado (-1810).

Mais adiante, na extremidade ocidental do edifício, abre-se um pequeno jardim construído sobre a chamada Rocha do Conde de Óbidos, formação rochosa sobre a qual se situavam outrora, de um lado o palácio dos condes de Óbidos (actuais instalações da Cruz Vermelha) e do outro um antigo convento feminino, o designado convento das Albertas. Este convento já não existe e no seu lugar ergue-se, hoje em dia, a ala do museu edificada no final dos anos de 1930, enquanto a pequena cerca do convento foi transformada num jardim público – o Jardim 9 de Abril – que dá acesso à entrada principal e que liga, através de duas longas escadarias que tiram partido da topografia, com a avenida 24 de Julho, toponímia do antigo Aterro oitocentista."



Espero ter sido o suficiente para vos despertar o interesse em visitar este Museu e o seu jardim!

Os jacarandás já estão em flor! levem um livro e boas leituras.


Até breve! Tágide.


 








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