Walt Whitman (1819 - 1892)

Walt Whitman (1819 - 1892)
(...) What do you see, Walt Whitman? Who are they you salute, and that one after another salute you? (...)

18 de julho de 2010

"Never Let Me Go" de Kazuo Ishiguro



Kazuo Ishiguro foi elogiado no Sunday Times por «ampliar as possibilidades da ficção».
Em Nunca Me Deixes, que se encontra certamente entre as suas melhores obras, conta-nos uma extraordinária história de amor, perda e verdades escondidas.

Kathy, Ruth e Tommy cresceram em Hailsham – um colégio interno idílico situado algures na província inglesa. Foram educados com esmero, cuidadosamente protegidos do mundo exterior e levados a crer que eram especiais. Mas o que os espera para além dos muros de Hailsham? Qual é, de facto, a sua razão de ser?

Só vários anos mais tarde, Kathy, agora uma jovem mulher de 31 anos, se permite ceder aos apelos da memória. O que se segue é a perturbadora história de como Kathy, Ruth e Tommy enfrentam aos poucos a verdade sobre uma infância aparentemente feliz — e sobre o futuro que lhes está destinado.

Contornar o banal, a simplificação do pensamento, inventar novos modos de dizer o que antes já foi dito, pegar num tema e dar-lhe a volta, adaptar o tema à voz que já se possui - regras evidentes para a produção de um bom livro.
Não é excessivamente importante a originalidade do material de base, pode ser até um constragimento para a prossecução da obra; o autor acaba por investir grande parte do seu esforço naquela ideia inicial absolutamente original e pode desleixar-se no aprimoramento da forma.


Em Nunca me Deixes, Ishiguro enveredou por caminhos estranhos no seu universo criativo, poder-se-ia ter pensado. Mas de rompante somos confrontados logo nas primeiras páginas com todas as marcas de autor a que estamos habituados. O lento desenrolar dos acontecimentos acaba por confirmar a impressão inicial.
A mestria do escritor inglês revela-se no uso de um estilo que finge ser desinteressado, afastado da pomposidade barroca dos primeiros livros.
A narrativa é um extenso flashback, um salto em direcção ao passado idílico de Kathy, o narrador, realizado com um primeiro objectivo: reunir tudo que foi dito, tudo o que aconteceu que na altura parecia destituído de sentido, e reconstituir uma linha coerente que concorresse para o desfecho que é pressentido nas primeiras páginas, o fim de Kathy como "Carer".
Mas este flashback, pontualmente interrompido por outras analepses, pretende ser também outra coisa: o resgate de uma infância que passou rapidamente pela vida de Cathy, Tommy e Ruth. A amizade que unia os três, como nasceu, cresceu e se alimentou das suas forças e das suas fragilidades, das peculiaridades e imperfeições que, noutro lugar, os poderiam afastar.

Atribuindo sentido a essa infância perdida, Ishiguro acaba por compor de forma subtil, mas resoluta, personagens de corpo inteiro, dotadas de uma espessura que, ao invés de as elevar acima do comum dos mortais, as coloca a um nível próximo do leitor, quase palpável.

Não querendo adiantar muito mais sobre o enredo do livro, acrescento que a humanidade que ressume da vida quase trágica (e escrevo quase porque a serenidade com que as personagens aceitam o seu destino é desarmante) de Kathy, Tommy e Ruth, é o nó que acaba por ser desatado no final, o que de modo irreversível me colocou de um lado da discussão ética que o tema do livro levanta.
Obras assim, que se dirigem directamente ao entendimento do leitor, e o questionam sem pudor, são raras.

Nunca me Deixes, Kazuo Ishiguro, Gradiva, 2006


KAZUO ISHIGURO é autor de cinco outros romances, três dos quais editados pela Gradiva — Os Despojos do Dia (1989, vencedor do Booker Prize), Os Inconsoláveis (1995, vencedor do Cheltenham Prize) e Quando Éramos Órfãos (2000, nomeado para o Booker). Em 1995 foi feito OBE (Oficial da Ordem do Império Britânico) por serviços prestados à literatura e em 1998 recebeu a condecoração de Chevalier de L’Ordre des Arts et des Lettres da República Francesa.



Adaptação ao Cinema:





Director: Mark Romanek


Writers: Kazuo Ishiguro (novel)

Alex Garland (screenplay)

Main Cast:


Carey Mulligan as Kathy.

Keira Knightley as Ruth.

Andrew Garfield as Tommy.

Domhnall Gleeson as Rodney.

Sally Hawkins as Miss Geraldine, a teacher at Hailsham, the boarding school.

Charlotte Rampling as Miss Emily, headmistress of the boarding school.

Andrea Riseborough as Miss Lucy, a teacher at the boarding school.

Nathalie Richard as Madame, a mysterious figure at the boarding school.

Ella Purnell as the younger version of Ruth.

Isobel Meikle-Small as the younger version of Kathy.

Charlie Rowe as the younger version of Tommy.

Never Let Me Go é um dos filmes mais antecipados do ano, adaptado do romance homónimo de Kazuo Ishiguro. O filme relata a história de três amigos que foram antigos alunos de um colégio interno numa sociedade distópica, onde eram criados para serem dadores de órgãos.



Fotos de http://www.foxsearchlight.com/neverletmego/

Realizado por Mark Romanek (argumentista de One Hour Photo) e adaptado por Alex Garland (28 Days Later), o filme é protagonizado por Keira Knightley (Pride & Prejudice), Carey Mulligan (An Education) e Andrew Garfield (The Imaginarium of Doctor Parnassus). Never Let Me Go estreia em Outubro de 2010.


A não perder! entretanto porque não ler o livro!! Até breve, Boas leituras Tágide.


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11 de julho de 2010

O filme "I Am Love" de Luca Guadagnino



“Tilda Swinton é sublime num filme gloriosamente operático que reinventa o melodrama clássico e a saga familiar para um tempo em que eles já não existem.

Atente-se na "chave" que dá título a este grande filme: Maria Callas, ela própria, interpretando a ária da "Mamma Morta" de Giordano, na banda-sonora do "Filadélfia" de Jonathan Demme, que Tilda Swinton vê uma noite na cama à beira de adormecer, antes de o marido chegar e mudar de canal sem sequer lhe perguntar o que está a ver. A frase que Callas canta é "Io sono l'amore" - "eu sou o amor" - e é nesse momento em que o marido a ignora como mera presença utilitária que a divina, gloriosa Tilda toma perfeita consciência do seu papel na poderosa família milanesa. Ela é a verdadeira "mamma morta" (aliás, mais tarde, alguém lhe dirá "tu não existes"), até o amor lhe cair do céu, numa noite de Inverno, na pessoa de um visitante inesperado que nem sequer fica para tomar café.


É complicado explicar o que se passa em "Eu Sou o Amor" sem correr o risco de menorizar a terceira ficção de Luca Guadagnino, porque o que eleva o filme ao estatuto de obra-prima é a abordagem operática, virtuosa, formalista, estilizada, hiper-romântica e pós-modernista com que o cineasta siciliano encara o melodrama clássico e a saga familiar, o modo como ele instala no classicismo do género um corpo estranho através de Tilda Swinton. Vamos, ainda assim, tentar:

- conhecemos os Recchi, poderosa família industrial milanesa, à volta da mesa do jantar de aniversário do patriarca, que acaba de decidir deixar o negócio de família ao filho e ao neto. Nesse jantar que respira um travo de passado glorioso, de aristocracia fora-de-tempo, percebemos também o papel que as mulheres nele desempenham: Rori, a matriarca, fiel guardiã da tradição familiar; Betta, a neta, de temperamento artístico, que começa a sentir-se limitada pelas expectativas da família; e Emma, a mulher do filho, a anfitriã perfeita, uma mulher discreta que aceitou representar o papel que lhe foi distribuído. Mas que, muito rapidamente, compreendemos que não lhe chega.

Emma é, evidentemente, Tilda Swinton, e a sua presença introduz o pauzinho na engrenagem da saga familiar; é o tal "corpo estranho" de que falávamos - não apenas pela sua personagem ser uma "intrusa" que, aceite pela família, nunca se sentiu inteiramente parte dela, mas também porque a presença física da actriz, pálida, alta, observadora, cria um contraste, lança um desequilíbrio, introduz uma nota de dissonância no conforto luxuoso que a rodeia. Esse contraste é depois amplificado pelas cenas de exteriores rurais onde se desenrola o "affaire" de Emma, de uma sensualidade exacerbada que se opõe à rigidez estruturada do palacete dos Recchi. Guadagnino mantém essa emoção a borbulhar subterraneamente durante todo o filme (sabiamente sublinhada pela música do compositor minimal John Adams), para apenas a deixar sair em momentos judiciosamente escolhidos, como uma panela de pressão que já quase não consegue aguentar a tensão.

Foto de http://www.iamlovemovie.com/


É inevitável pensarmos em mestre Visconti (há um travo de "O Leopardo" a passar por aqui, um fôlego de grande ópera italiana) ou em mestre Sirk (a transcendência da história banal através da encenação arrebatada e gloriosa), mas o que é notável em "Eu Sou o Amor" é que Guadagnino consegue marcar a distância dos mestres, criar o seu próprio modo de os actualizar e modernizar, sem medo de correr riscos e sem se retrair para não parecer ambicioso. Fá-lo com a preciosa ajuda da divina Tilda, a comprovar como é uma das maiores actrizes contemporâneas, e de um elenco impecável onde encontramos o actor e encenador Pippo Delbono e os veteranos Gabriele Ferzetti e Marisa Berenson (é impossível não recordar "Morte em Veneza"...), como quem sublinha que a estrutura rígida do melodrama exige o tal corpo estranho para rebentar por todos os lados e construir algo de novo que se insere numa tradição e a reinventa sem pruridos.

"Eu Sou o Amor" é uma obra-prima. “

Crítica Ípsilon por:

Mário Jorge Torres


Foto de http://www.iamlovemovie.com/

Ano: 2009
País: Itália
Género: Drama
Duração: 120 min.
Classificação: M/12
Distribuidora: Ecofilmes/Vitória Filme
Realização: Luca Guadagnino
Intérpretes: Tilda Swinton, Flavio Parenti, Edoardo Gabbriellini
http://www.iamlovemovie.com/


A minha opinião:

Achei o filme de uma beleza extraordinária, na riqueza das personagens, na paisagem e na música.

A matriarca é encantadora, corajosa e é certamente uma referência para muitas mulheres da sua geração.

Gostei do ambiente bucólico, do ímpeto da paixão, da cozinha gourmet, da simplicidade e da beleza natural dela, a postura, os silêncios, que dizem mais do que as palavras.

A emancipação das mulheres de meia-idade é aqui retratada, a sensualidade de uma mulher madura hoje em dia tornou-se bastante real e é vivida com uma outra intensidade e saber. A nova geração, os filhos têm ajudado as mães a libertaram-se e a saberem mais de si, inovando ou procurando novas experiências, aqui bem retratada numa das cenas entre mãe e filha.
Achei romântico e cheio de erotismo.

Em detalhe:

A gula e a luxúria têm ligações ancestrais, não por se inscreverem na lista dos pecados capitais da Igreja, mas por, muitas vezes, uma conduzir à outra. Na Antiguidade, os grandes banquetes precediam grandes orgias. E ainda hoje, numa espécie de ritual, depois de um jantar a dois adivinha-se uma noite de amor. O prazer de comer e o prazer de, enfim, comer parecem manter-se intimamente ligados, como se o êxtase gastronómico implorasse o carnal. Há quem se apaixone por sabores, como se vê neste filme, e Eu sou o Amor, do italiano Luca Gudagnino .



Foto de http://www.iamlovemovie.com/

A protagonista deste filme apaixona-se pelo cozinheiro através dos seus cozinhados. Quando sensualmente saboreia os seus pratos. E é pecado, já que, tal como Roberto Carlos cantava: "Tudo o que eu gosto é imoral, ilegal ou engorda".

A protagonista deste filme italiano é uma aristocrata que se delicia com a rebuscada conjugação de sabores nouvelle cousine, com design, preparada a preceito por um cozinheiro de elite.

O filme Eu sou o Amor é um banquete da aristocracia milanesa, daqueles que anos depois ainda se pensa:
- comi tão bem naquele dia. Àqueles que se perguntam, por onde tem andado o cinema italiano de Rosselini e Visconti, de que nem Moretti nem Benigni são sucessores, aqui têm uma boa resposta.

Eu sou o amor é um filme eminentemente viscontiniano, a começar pelo ambiente aristocrata em que a história se desenlaça e a acabar pelo magistral domínio do movimento da câmara de Luca Gudagnino. É um filme de uma sumptuosidade rara, com a espessura psicológica de um romance clássico russo e a temática universal do amor. Sobretudo da explicação de um amor impossível e impassível perante as atrocidades da vida.

Tilda Swinton, que faz de russa que se casou com um aristocrata rico, cumpre um dos melhores papéis da sua carreira. O realizador já lhe tinha dedicado o documentário The Love Factory (2002), e aqui fá-la brilhar, inclusive quando a actriz inglesa finge que não sabe inglês. O percurso da personagem é de tal forma rico, que esta começa no pomposo e luxuoso almoço de família no seu palacete em Milão e acaba nua numa gruta na estrada de San Remo. A ascensão e queda dos Recchi.

 O filme "I Am Love" - Official Trailer HD 2010:



Sinopse em Inglês:

"I AM LOVE":
- tells the story of the wealthy Recchi family, whose lives are undergoing sweeping changes. Eduardo Sr., the family patriarch, has decided to name a successor to the reigns of his massive industrial company, surprising everyone by splitting power between his son Tancredi, and grandson Edo. But Edo dreams of opening a restaurant with his friend Antonio, a handsome and talented chef. At the heart of the family is Tancredi's wife Emma (Tilda Swinton), a Russian immigrant who has adopted the culture of Milan. An adoring and attentive mother, her existence is shocked to the core when she falls quickly and deeply in love with Edo's friend and partner Antonio, and embarks on a passionate love affair that will change her family forever.

"AN AMAZING FILM. It is deep, rich, human.”

-Roger Ebert, Chicago Sun Times

“ATTENTION ALL MOVIE BUFFS: GET READY TO HAVE YOUR MINDS BLOWN. A bold and thrilling masterpiece – the introduction of a major talent to the world’s stage. The film gets better as it goes along, culminating in a rapturous ending that exhilarates the viewer in a manner I've never felt in a movie.”

-Rene Rodriguez, Herald

“A rich family drama that is both a sensual celebration of bourgeois pleasures and a showcase for Tilda Swinton.”

-Kenneth Turn, LA Times

“SPRAWLING, AMBITIOUS… AMAZINGLY ACCOMPLISHED.”

-Mark Olsen, LA Times


A não perder ainda em exibição em Lisboa! Bom filme, até breve Tágide!

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9 de julho de 2010

Sir Arthur Conan Doyle 1859 - 1930 - “Deus está nos pormenores”.


Portrait of Arthur conan doyle by Sidney Paget...

Sir Arthur Ignatius Conan Doyle, (Edimburgo, 22 de Maio de 1859 — Crowborough, 7 de Julho de 1930) foi um escritor e médico britânico, mundialmente famoso por suas 60 histórias sobre o detective Sherlock Holmes, consideradas uma grande inovação no campo da literatura criminal. Foi um escritor versátil cujos trabalhos incluem histórias de ficção científica, novelas históricas, peças e romances, poesias e obras de não-ficção. Arthur Conan Doyle viveu e escreveu parte de suas obras em Southsea, um bairro elegante de Portsmouth.

Primeiros anos

Filho de um pai inglês de descendência irlandesa - Charles Altamont Doyle - e de uma mãe irlandesa - com nome de solteira Mary Foley - que se casaram em 1855.[1] Família rigorosamente católica, herdando da mãe o carácter cavalheiresco, tendo sido ela quem lhe ministrou as primeiras letras.[2]

Embora ele seja hoje conhecido como "Conan Doyle", a origem de seu apelido composto é incerta.
O seu registo de baptismo na Catedral de Santa Maria em Edimburgo afirma que "Arthur Ignatius Conan" é o seu nome cristão, e apenas "Doyle" é o seu apelido. O baptismo também intitula Michael Conan como seu padrinho.[3]

Conan Doyle foi enviado para um colégio jesuíta da vila de Hodder Place, Stonyhurst (em Lancashire) quando tinha nove anos. Matriculou-se em seguida no Colégio Stonyhurst mas, em 1875, quando concluiu o liceu, rejeitava o cristianismo e tornou-se agnóstico; esse questionamento surgiu de sua admiração pelo escritor Thomas Babington Macauley, que se dizia agnóstico e, após ouvir uma palestra onde um padre afirmava que os não-católicos iriam para o inferno, seus questionamentos tornaram-se cada vez mais agudos. Mais tarde outro agnóstico viria a influenciá-lo - Dr. Bryan Charles Waller. Literariamente, foi fortemente marcado por Walter Scott e Edgar Allan Poe, além de Macauley.[2]


Entre 1876 e 1881, estudou medicina na Universidade de Edimburgo, passando também um tempo na cidade de Aston (hoje um distrito de Birmingham) e em Sheffield.[4] Em 1878, por exemplo, trabalhou por três semanas, em regime de troca de casa e comida, como médico aprendiz nos subúrbios de Sheffield, de cuja experiência relatou em carta: "Esta gente de Sheffield prefere ser envenenada por um homem com barba do que ser salva por um homem imberbe".[2]

Enquanto estudava, começou a escrever pequenas histórias; sua primeira obra foi publicada antes de completar os 20 anos, aparecendo no Chambers’s Edinburgh Journal.[5] Ainda estudante teve sua primeira experiência naval, como médico numa baleeira, onde ficou sete meses no Oceano Ártico.[2]

Após a sua formação na universidade, em 1881, serviu como médico de bordo no navio "Mayumba" em viagem à costa Oeste da África mas em outubro daquele ano a embarcação passou por sérias dificuldades no mar e, quando retornou a Liverpool no ano seguinte, Doyle escreve a sua mãe - que o incentivara nesta aventura - dizendo que não mais embarcaria pois "o que ganho é menos do que poderia ganhar com a minha pena ao mesmo tempo, e o clima é atroz."[2]


Emprego e as origens de Sherlock Holmes:

Em 1882, ele juntou-se ao seu antigo colega de classe George Budd para formar uma parceria num consultório médico em Plymouth, mas a relação entre eles foi difícil, e, logo, Conan Doyle passou a fazer suas consultas médicas independentemente. Chegando a Portsmouth em junho daquele ano com menos de £10, ele começou a atender no nº 1 Bush Villas em Elm Grove, Southsea. Os negócios não tiveram muito sucesso; enquanto aguardava por pacientes, ele voltou a escrever suas histórias. A sua primeira obra notável foi - Um Estudo em Vermelho -, publicada no Beeton’s Christmas Annual de 1887, e foi a primeira vez em que Sherlock Holmes apareceu.
Holmes era parcialmente baseado num professor seu da sua época na universidade, Joseph Bell, a quem Conan Doyle escreveu: "É mais do que certo que é ao Senhor a quem eu devo Sherlock Holmes… foi com base no centro de dedução, na interferência e na observação que tantas vezes ouvi que, tentei construir este homem.".
As futuras histórias de Sherlock Holmes foram publicadas na inglesa Strand Magazine. O que é interessante é que, mesmo na distante Samoa, Robert Louis Stevenson foi capaz de reconhecer a forte similaridade entre Joseph Bell e Sherlock Holmes. "Meus parabéns às geniais e interessantes aventuras de Sherlock Holmes… Seria este o meu velho amigo Joe Bell?".
Outros autores ocasionalmente sugerem influências adicionais, como o famoso personagem de Edgar Allan Poe, C. Auguste Dupin.


Casamento e família:

Em 1885, casou-se com Louisa (ou Louise) Hawkins, conhecida como "Touie", que sofria de tuberculose e acabou morrendo no dia 4 de julho de 1906. Em 1907, ele casou-se com Jean Elizabeth Leckie, por quem ele se apaixonou em 1897,e manteve uma relação platônica enquanto sua primeira esposa ainda estava viva, quebrando a lealdade. Jean morreu no dia 27 de junho de 1940 em Londres.

Conan Doyle teve cinco filhos, dois com sua primeira esposa – (1) Mary Louise (28 de Janeiro de 1889 – 12 de Junho de 1976) e (2) Arthur Alleyne Kingsley, conhecido como "Kingsley" (15 de Novembro de 1892 – 28 de Outubro de 1918) – e três com sua segunda esposa – (3) Denis Percy Stewart (17 de Março de 1909 – 9 de Março de 1955), este, em 1936, o segundo marido da princesa georgiana Nina Mdivani (cerca de 1910 – 19 de Fevereiro de 1987; ex-cunhada de Barbara Hutton), (4) Adrian Malcolm (1910 – 1970) e (5) Jean Lena Annette (1912 – 1997).

Morte de Sherlock Holmes:

Em 1890, Conan Doyle começou a estudar em Viena para se especializar em Oftalmologia; mudou-se para Londres em 1891 para começar a exercer como oftalmologista. Conforme diz a sua autobiografia, nenhum paciente entrou pela porta de seu consultório, o que lhe deu mais tempo para escrever. Em Novembro de 1891, ele escreveu á sua mãe: "Acho que vou assassinar Holmes… e dar-lhe um fim de uma vez por todas. Ele priva a minha mente de coisas melhores.". A sua mãe respondeu, "Faz o que achares melhor, mas o público não aceitará essa atitude em silêncio.". Em Dezembro de 1893, ele fez o que pretendia para dedicar mais tempo a obras que ele considerava mais "importantes" – como os seus livros históricos.

Holmes e Moriarty aparentemente mergulharam nas suas mortes nas Cataratas de Reichenbach na história The Final Problem. A manifestação de desagrado do público fez com que o escritor trouxesse o personagem de volta; ele voltou na história A Casa Vazia, com a explicação de que apenas Moriarty havia caído, mas como Holmes tinha outros inimigos perigosos, especialmente o Coronel Sebastian Moran, ele fingiu estar "temporariamente" morto. Assim, Holmes apareceu num total de 56 pequenas histórias e quatro livros, escritos por Conan Doyle (ele apareceu em vários livros e histórias por outros autores).

Envolvimento em campanhas políticas:

Após a guerra bôer, que ocorreu na viragem do século XX na África do Sul, e o escárnio vindo de todo o mundo por causa da conduta do Reino Unido, Conan Doyle escreveu um pequeno panfleto intitulado A Guerra na África do Sul: Causa e Conduta, justificando o papel do Reino Unido na guerra bôer. O panfleto foi traduzido para vários idiomas.

Conan Doyle acreditava que foi por causa deste panfleto que ele foi condecorado com o título de cavaleiro em 1902 e indicado como deputado-tenente de Surrey. Em 1900, escreveu algo maior, um livro, A Grande Guerra Bôer. Nos primeiros anos do século XX, Sir Arthur tentou entrar para o Parlamento como um membro da União Liberal duas vezes, uma em Edimburgo e outra em Hawick Burghs, mas, embora tenha recebido uma quantidade respeitável de votos, não conseguiu ser eleito.

Conan Doyle envolveu-se na campanha pela reforma do Estado Livre do Congo, liderada pelo jornalista E. D. Morel e pelo diplomata Roger Casement. Em 1909, escreveu O Crime do Congo, um grande panfleto no qual ele denunciava os horrores daquele país. Tornou-se um grande amigo de Morel e Casement, e é possível que eles, juntamente como Bertram Fletcher Robinson, tenham servido de inspiração para vários personagens do livro O Mundo Perdido (1912).

Sir Arthur Conan Doyle cortou relações com ambos quando Morel se tornou um dos líderes do movimento pacifista da Primeira Guerra Mundial, e quando Casement foi acusado de traição contra o Reino Unido durante a revolta da Páscoa. Conan Doyle tentou, sem sucesso, salvar Casement da pena de morte, alegando que ele estava louco e não era responsável pelas suas ações.

O Espiritismo:

Após a morte da sua esposa Louisa em 1906 e a morte do seu filho Kingsley, do irmão Innes, e dos seus dois cunhados (um dos quais era E. W. Hornung, criador do personagem literário Raffles), e dos seus dois netos logo após a Primeira Guerra Mundial, Conan Doyle entrou em um profundo estado de depressão.
Encontrou consolação apoiando-se no espiritismo e na sua dita prova científica de vida após a morte.

Kingsley Doyle morreu no dia 28 de Outubro de 1918 com uma pneumonia que contraiu em convalescença, após ter sido seriamente ferido durante a batalha do Somme em 1916. O General Brigadeiro Innes Doyle morreu em fevereiro de 1919, também de pneumonia. Sir Arthur envolveu-se com o espiritismo ao ponto de escrever um livro sobre o assunto, apresentando uma outra personagem o Professor Challenger, A Terra da Neblina.

Na obra "A Chegada das Fadas" (1921), ele demonstra estar aparentemente convencido quanto à veracidade das fotografias das fadas de Cottingley[1] (que foram comprovadas como um boato décadas mais tarde), que ele reproduziu no livro, ao longo das teorias sobre a natureza e a existência de fadas e espíritos. Em A História do Espiritualismo (1926), Conan Doyle aclamou os fenômenos físicos e as materializações espirituais produzidas por Eusápia Paladino e Mina "Margery" Crandon. O seu trabalho sobre o tópico foi um dos motivos pelos quais a sua compilação de pequenas histórias, As Aventuras de Sherlock Holmes, foi proibida na União Soviética em 1929 por suposto ocultismo. A proibição foi retirada mais tarde. O actor russo Vasily Livanov receberia uma Ordem do Império Britânico por sua interpretação de Sherlock Holmes.

fadas de Cottingley - Foto de http://www.motivatedphotos.com/


Por algum tempo, Conan Doyle foi um amigo do mágico Harry Houdini, que se tornaria um grande oponente do movimento espirita na década de 1920 após a morte de sua mãe. Embora Houdini insistisse que os médiuns espiritualistas faziam truques de ilusionismo (e tentava revelar as fraudes por trás desses truques), Conan Doyle já estava convencido de que o próprio Houdini possuía poderes sobrenaturais, um ponto de vista expresso em O Limite do Desconhecido. Aparentemente, Houdini não foi capaz de convencer Conan Doyle de que seus feitos eram simples ilusões, levando a uma amarga e pública quebra de relações entre os dois.

Richard Milner, historiador americano de ciências, apresentou um caso no qual Conan Doyle pode ter sido o responsável pelo boato "do homem de Piltdown" de 1912, criando um fóssil hominídeo falso que enganou o mundo científico por mais de 40 anos. Milner disse que o motivo de Conan Doyle era vingar-se do estabelecimento científico por desbancar uma de suas físicas favoritas, dizendo ainda que O Mundo Perdido continha várias pistas criptografadas que tratavam de seu envolvimento com o boato.

O livro de 1974 escrito por Samuel Rosenberg, Naked is the Best Disguise, propõe-se a explicar como Conan Doyle deixou no meio de seus escritos pistas abertas que se relatam a aspectos ocultos de sua mentalidade.

Morte:

Conan Doyle foi encontrado com as mãos no seu peito nos corredores da Windlesham, a sua casa em Crowborough, East Sussex, no dia 7 de Julho de 1930. Morreu de ataque cardíaco aos 71 anos. A suas últimas palavras foram para a sua esposa: "és maravilhosa.".

Undershaw, a casa que Conan Doyle havia construído nas redondezas de Hindhead, no Sul de Londres, e onde ele viveu por aproximadamente uma década, passou a ser um hotel e restaurante entre 1924 e 2004. A casa foi, então, adquirida por um investidor, e foi mantida vazia desde então enquanto conservacionistas e fãs do autor lutam para preservá-la.

Há uma estátua em honra a Conan Doyle em Crowborough Cross, Crowborough, onde Conan Doyle viveu 23 anos. Também há uma estátua de Sherlock Holmes em Picardy Place, Edimburgo, Escócia, próximo à casa onde Conan Doyle nasceu.

Partidário do espiritismo:

Conan Doyle, no ano de 1887, trava seu primeiro contacto com o espiritismo, iniciando neste mesmo ano, junto ao seu amigo Ball, arquiteto de Portsmouth, sessões mediúnicas que o fizeram rever seus conceitos. Sua obra literária, então, ganha notoriedade, atingindo milhares de leitores. No auge da fama, em 1918, enfrenta todos os cépticos e publica A Nova Revelação, obra em que manifesta sua convicção na explicação espírita para as manifestações paranormais estudadas durante o século XIX, e inicia uma série de outras obras e palestras sobre o tema.

A sua convicção foi além: para receber o título de Par (Peer) do Reino Britânico, foi-lhe imposta a condição de renunciar às suas crenças. Confrontando a todos, e ao sectarismo vigente, permaneceu fiel à fé que abraçara, e que acompanhou até seus últimos dias. Foi Presidente Honorário da International Spiritualist Federation (1925-1930), Presidente da Aliança Espírita de Londres e Presidente do Colégio Britânico de Ciência Espírita.

No conjunto das suas obras, destacam-se os dois volumes de A História do Espiritismo, pormenorizado estudo sobre a história dos movimentos espiritualista anglo-saxônico, francês, alemão e italiano.

Frances e as Fadas, julho de 1917, foto tomada por Elsie. Máquina fotográfica Midg Quarter a 4 pés, 1/50 segundos., dia ensolarado

A Grande Guerra Boer:

Em 9 de Agosto de 1902 Arthur Conan Doyle foi nomeado cavaleiro pela sua importante participação na Guerra Boer. Trabalhou na linha de frente da batalha como cirurgião, e foi elogiado pelos compatriotas pela coragem e determinação na prestação de socorro.

Regressando à Inglaterra escreveu um livro escolar com o título "A Grande Guerra Boer".


Fontes e referências:


1. ↑ Material traduzido de Arthur Conan Doyle. (2006, July 12). Wikipedia, The Free Encyclopedia. 17:43, 12 de Julho, 2006.
1. ↑ Arthur Conan Doyle: A Life in Letters (em inglês). HarperPress, 2007. pp.8-9. ISBN 978-0-00-724759-2
Stashower, Daniel (2000), Penguin Books, Teller of Tales: The Life of Arthur Conan Doyle, pp 20–21. ISBN ISBN 0-8050-5074-4
2. ↑ a b c d e Arthur Conan Doyle. A Nova Revelação: Tradução por Guillon Ribeiro, com biografia do autor por Indalício H. Mendes (em português). 2ª.ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1980.
Para a biografia, Mendes utilizou-se de várias obras como "The Life of Sir Arthur Conan Doyle", de John Dickson Carr; "El Espiritismo - Su historia, sus doctrinas, sus hechos" e A Nova Revelação, do próprio biografado e matérias como "Conan Doyle - O Homem que eu Conheci", por Harvey Metcalfe, apud revista "Estudos Psíquicos", de Lisboa.
3. ↑ Stashower (op. cit. pp. 20-21) diz que o sobrenome originou-se de seu tio-avô Michael Conan, um renomado jornalista, para a composição do sobrenome de Arthur e de sua irmã mais velha, Annette, que formaram o sobrenome composto "Conan Doyle". A mesma fonte destaca que, em 1885, ele descrevia-se na placa de bronze na fachada de sua casa, e também em sua tese de doutorado, como "Arthur Conan Doyle".
4. ↑ Museums Sheffield. Sir Arthur Conan Doyle: Author of the Sherlock Holmes detective novels. Página visitada em 3 de janeiro de 2010.
5. ↑ Stashower (op. cit.) pp 30–31


Principais obras:


Romances com Sherlock Holmes

1887 - A Study in Scarlet (Um Estudo em Vermelho)
1890 - The Sign of the Four (O Signo dos Quatro)
1902 - The Hound of the Baskervilles (O Cão dos Baskervilles)
1915 - The Valley of Fear (O Vale do Medo/O Vale do Terror)

Contos com Sherlock Holmes

1892 - The Adventures of Sherlock Holmes (As Aventuras de Sherlock Holmes)
1894 - The Memoirs of Sherlock Holmes (As Memórias de Sherlock Holmes)
1905 - The Return of Sherlock Holmes (A Regresso de Sherlock Holmes)
1917 - His Last Bow (pt: Os Últimos Casos de Sherlock Holmes / br: O Último Adeus de Sherlock Holmes)
1927 - The Case-Book of Sherlock Holmes (O livro de casos de Sherlock Holmes)
1928 - The Complete Sherlock Holmes Short Stories (Coleção completa de histórias de Sherlock Holmes)

Narrativas com o Professor Challenger

1912 - The Lost World (O Mundo Perdido)
1913 - The Poison Belt (O cinto venenoso)
1926 - The Land of Mist (A terra da neblina)
1927 - The Disintegration Machine (A maquina de desentegração)
1928 - When the World Screamed (Quando o mundo gritou)
1952 - The Professor Challenger Stories (A historias do Professor Challenger)

Ensaios

1902 - The War in South Africa: Its Causes and Conduct
1907 - The Case of Mr. George Edalji
1912 - The Case of Oscar Slater
1920 - Spiritualism and Rationalism
1925 - The Early Christian Church and Modern Spiritualism
1925 - Psychic Experiences

Trabalhos sobre a guerra, o exército e o espiritismo:

1900 - The Great Boer War
1909 - The Crime of the Congo
1909 - Divorce Law Reform: An Esaay
1911 - Why He is Now in Favor of Home Rule
1914 - The German War
1914 - Civilian National Reserve
1914 - The World War Conspiracy
1914 - The German War
1915 - Western Wanderings
1915 - The Look on the War
1916 - An Appreciation of Sir John French
1916 - A Visit to Three Fronts
1916 - The Bristish Campaign in France and Flanders
1917 - Supremacy of the British Soldier
1918 - Life After Death
1918 - The New Revelation: or, What is Spiritualism?
1919 - The Vital Message
1922 - Spiritualism - Some Straight Questions and Direct Answers
1921 - The Wanderings of a Spiritualist
1922 - The Case of Spirit Photography
1922 - The Coming of the Faries
1928 - A World of Warning
1928 - What does Spiritualism actually Teach and Stand for?
1929 - An Open Letter to those of my Generation
1929 - Our African Winter
1930 - The Edge of the Unknown

A adaptação ao cinema de Sherlock Holmes:


“Deus está nos pormenores”. Esta célebre frase de Miguel Ângelo teve o seu sublinhado literário quando Sir Artur Conan Doyle fez publicar na revista Beeton’s Christmas Annual, em Novembro de 1887, o conto A Study in Scarlet (Um estudo em Vermelho) e despoletou uma corrente de romances dum novo género policial em que o protagonista, Sherlock Holmes, resolvia os crimes de contornos mais bizarros e misteriosos graças ao seu fantástico poder de dedução e sobretudo a uma ímpar atenção aos pormenores.

Holmes, um personagem exótico para os padrões vitorianos, possuía uma cultura geral extensa e impressionante. Dominando várias línguas, o conhecimento de todas as culturas suas contemporâneas e a maior parte das desaparecidas, era um virtuoso com o violino e manejava os punhos como um autêntico campeão da modalidade criada havia poucos anos pelo marquês de Queensberry, o Boxe.

Calmo e aparentemente distante, o “detective consultor”, como se autodenominava, tinha como único amigo o Dr. Watson, um médico veterano da guerra do Afeganistão que o acompanhava em todas as suas investigações e que nos romances servia sobretudo como testemunha de todo o processo dedutivo e, se necessário, como set auxiliar de músculos.

Sherlock Holmes aparecia nos livros de Doyle como alguém um patamar acima do comum dos mortais naquilo em que era ímpar, ou seja: investigação, observação, dedução e raciocínio. Assim, a polícia, naquelas páginas um bando de menos-válidos chefiado pelo inspector Lestrade, era apenas um mero e pobre complemento que vinha fechar o ciclo da investigação e prender os criminosos desmascarados pelo famoso detective.

Contudo, o Holmes literário, para além das suas capacidades intelectuais sobre-humanas possuía uma faceta sombria que o afastava de uma existência tranquila. Viciado em cocaína e na sua fria inteligência, arrogante e detentor de um certo snobismo intelectual, este recluso voluntário do nº 221B da Baker Street, embora cavalheiro de educação e trato não apreciava particularmente a companhia dos seus semelhantes e não se lhe conhece qualquer envolvimento romântico ao longo das viciantes inúmeras páginas escritas por Doyle.

Personagem fascinante, saltou rapidamente das páginas dos livros para os palcos de teatro de Londres e, com o advento do cinema, para a tela onde aparece em inúmeros filmes. As adaptações à obra, quer em teatro, quer em cinema, transmitiram ao público uma imagem do detective bem diferente da original criação ( a idiota, mas popular, frase “elementar meu caro Watson” nasceu nos palcos londrinos ).

Houve até hoje criações em cinema e televisão que fizeram jus ao talento do criador literário. As versões que tiveram Basil Rathbone, Peter Cushing, Jeremy Brent, Robert Stephens, Nicol Williamson, agora Robert Downey Jr., como protagonistas são particularmente estimáveis, ao lado de outras ainda interessantes, muito acima de algumas dezenas totalmente irrelevantes.

Basil Rathbone - Foto de http://www.motivatedphotos.com/


                                                                         Peter Cushing - Foto de http://www.motivatedphotos.com/


Peter Cushing - Foto de www.motivatedphotos.com


Foi no pequeno ecrã que em 1984, Jeremy Brett interpreta o dramático Sherlock Holmes, talvez o mais fiel às páginas de Sir Artur Conan Doyle numa série magistral produzida pela Granada Television.
 
 
Jeremy Brett - Foto de http://www.motivatedphotos.com/


Jeremy Brett & Edward Hardwicke as Watson Granada Television photos


Jeremy Brett Granada Television photos


Jeremy Brett Granada Television photos


E depois desta adaptação… perfeita, que mais se poderia fazer?

Guy Ritchie recriou um Holmes diferente. Em Sherlock Holmes, lançado no grande ecrã no princípio de 2010, cento e vinte e três anos depois do primeiro contacto público com o personagem, continuamos a ver as carruagens puxadas por cavalos no pavimento de paralelepípedos grossos das ruas londrinas cobertas de nevoeiro, numa recriação aliás muito bem conseguida daqueles tempos, mas encontramos um Holmes que Doyle teria aprovado se tivesse vivido durante um mês na Londres contemporânea.

O Sherlock contido, de aspecto engomado e porte impecável fica para trás. Guy Ritchie oferece-nos um verdadeiro misfit, um inesperado Holmes ( interpretado por Robert Downey Jr.) que se assume como alguém à margem da sociedade vitoriana, alguém a quem Watson, a dada parte chama... depravado.


O Sherlock Holmes de Guy Ritchie vive a sua diferença de forma brutal e sente-a na pele com uma marginalização efectiva. Os combates de boxe de coreografia meticulosamente planeada por si parecem mera e boçal pancadaria para os espectadores seus contemporâneos. Bebe em público e leva o aspecto blasé, a barba por fazer, o despenteado militante e o descuido na aparência a extremos. Este Holmes, não sendo compreendido na sua diferença (atrás descrita), não é respeitado pelos que o rodeiam.

A componente amorosa, ausente na obra de Doyle, encontra-se presente neste filme no envolvimento do detective com Irene Adler. Esta personagem feminina era alguém a que nos livros Holmes referia como “A Mulher” porque para si ele olhava com a admiração que não tinha por mais ninguém. E isso porque nela reconhecia o brilho que encontrava dentro de si mesmo. Uma sua igual. Assim, o mais natural seria apaixonar-se por esta criatura feminina, e até mesmo fazer figura de parvo, como acontece no filme.

Neste filme encontramos um argumento muito bem elaborado que poderia ter sido retirado de um dos livros, apesar do vilão, Blackwood, possuir contornos demasiado intensos, excessivos para um vilão típico do imaginário de Doyle.

Essa condição de arqui-inimigo declarado e capaz é reservada por Doyle para o Professor Moriarty, que conta com uma presença algo nebulosa neste filme.Watson, um pacato médico de meia-idade nos fólios é aqui interpretado por um Jude Law de aspecto trintão, casadoiro e embeiçado pela beleza da protagonista interpretada por uma Kelly Reilly que vai dar que falar por aí...

Na minha opinião a nota mais que positiva vai para uma banda sonora de violinos (naturalmente) de influência cigana.
Sherlock Holmes, de Guy Ritchie, não sendo genial, é uma obra muito válida porque “continua” Doyle de uma forma despudoradamente simples.

Se os personagens podem de facto evoluir, Ritchie conseguiu fazê-lo com o de Sherlock Holmes.




Boas leituras! e bons filmes! Até breve Tágide.







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7 de julho de 2010

Voltando ao tema dos Vampiros - um slideshow -





Este slideshow foi criado com fotos do meu post sobre Vampiros no site http://www.slide.com/  achei muito giro como com um conjunto de fotos se pode fazer algo tão interessante! as possibilidades são imensas.
Até breve Tágide!

3 de julho de 2010

Orlando de Virginia Woolf


Portrait of Virginia Woolf (1882-1941)
 Virginia Woolf - image via Wikipedia

Orlando: mais do que a história dos sexos

Quando foi publicado, em 1928, Orlando era a menos “woolfiana” de entre as obras de Virginia Woolf. Nesta biografia ficcionada, os traços realistas ficaram de fora para dar lugar à exploração dos limites da consciência humana e à reflexão sobre o efeito do tempo no Homem.
Este é um texto com grandes potencialidades, aberto a vários níveis de interpretação: há quem veja nele a história de um personagem imaginário, e há quem veja muito mais do que isso. Talvez, acreditando nas palavras do próprio Orlando, este seja simplesmente a história de alguém que busca «a vida e o amor».


    
Images via Wikipedia

A vida de Orlando é tão excepcional quanto nos é narrada com grande naturalidade pela “biógrafa” Virginia Woolf:
Orlando é-nos apresentado nas primeiras páginas da obra como um nobre e belo rapaz e a última vez que o vemos é enquanto mulher de trinta e seis anos.


Image via Wikipedia 

O que sucede pelo meio? Orlando experimenta a decepção amorosa pelas mãos de Sasha, a princesa russa que o vai seduzir e desaparecer e a traição do poeta admirado que escreve um poema satírico inspirado no nobre rapaz que acreditava poder ser feliz entre os seus cães, a Natureza e a poesia.
É enquanto cônsul na Turquia que Orlando, então com trinta anos, acorda após um sono de sete dias para descobrir que o seu corpo é agora o de uma mulher. Esta mudança parece perturbá-la apenas no regresso à terra natal, quando Lady Orlando se sente mulher e compreende as contingências dos dois sexos.
As peripécias sucedem-se (a relação de Orlando com o Conde romeno que a corteja inclui episódios muito divertidos) até a mulher, já madura, encontrar aquilo que procura: o amor nos braços do misterioso Shelmerdine, que lhe dará uma filha, e a vida feita da sabedoria acumulada durante séculos.




Images via Wikipedia

Talvez este texto devesse começar por aqui: aparentemente, Orlando é imortal e o período da sua vida que Woolf retrata estende-se desde a corte isabelina de 1600 até 11 de Outubro 1928, ano em que o livro é escrito.
Mas, como já se disse, a biógrafa descreve Orlando como meramente humano (Woolf impinge ao leitor este delicioso engano) e este ser, excepcional pela sua bondade, pela sua beleza, pela sua coragem apaixona facilmente aqueles leitores que têm o hábito de contrair “paixonetas” literárias.
Este retrato de Orlando parece ser a utopia da escritora: um ser humano imortal, leal, corajoso, inocente e puro. Alguém, de facto, que se assemelha a um ser humano, mas que pela sua perfeição nunca o poderia ser.

Orlando recebeu grande aceitação aquando da sua publicação, tanto na Grã-Bretanha como nos Estados Unidos. Diga-se que foi esta obra que permitiu ao casal Leonard e Virginia Woolf comprar o carro que os passeava por Londres e viver desafogadamente durante o resto das suas vidas. Este sucesso deveu-se ao burburinho causado pela explícita colagem do biografado a Vita Sackville-West, a mulher que obcecava Virginia e para quem Orlando foi escrito como «uma extensa carta de amor».


Vita Sackville-West - Image via Wikipedia

Para além do escândalo social, outras controvérsias fizeram do livro um tema apetecível de discussão.
As feministas viram em Orlando o que lhes convinha: uma reflexão sobre o papel das mulheres na sociedade e na literatura, uma apologia da igualdade entre sexos ou até mesmo uma alegoria à superioridade do sexo feminino (recorde-se que, na última página do livro, Orlando é mulher, mãe e, principalmente, sábia e feliz).

Foto motivatedphotos.com


E, se as interpretações feministas não fazem hoje sentido, a obra não perde por isso pertinência nem charme. Pelo contrário, liberta de eventuais manipulações ideológicas, - Virginia não rejeita ao livro essa carga ideológica, mas ao descrevê-lo como «uma piada» (referindo-se ao escândalo causado) ou como «uma extensa carta de amor», o feminismo parece remetido para um plano muito secundário - esta biografia fantástica ganha novas perspectivas e força intemporal.
Acima de tudo, Orlando é uma obra singular (tanto no panorama literário em geral quanto na bibliografia da também única Virginia Woolf), repleta de momentos de delicioso humor e de verdadeira poesia. Se não imediatamente na primeira página, o leitor é inevitavelmente levado a “apaixonar-se” por Orlando à medida que ele/a amadurece.


A crítica aclamou o livro pela abordagem vanguardista que a autora fez da biografia enquanto género literário. Sendo Orlando imortal e, num primeiro momento, um nobre ao serviço da pátria, a sua vida calca os mesmos caminhos de importantes acontecimentos históricos, o que lhe confere uma capacidade desejada pela maioria dos mortais e que tanto talento e perspicácia exige ao biógrafo: ser, num único corpo, múltiplos indivíduos, viver inúmeras vidas e ver através de mais do que um par de olhos, relativizando (ou tornando obsoleta) a noção de tempo.

Refira-se que, apesar da sua peculiaridade, Orlando contém alguns elementos comuns a toda a obra de Woolf e que fizeram dela uma das mais importantes escritoras do Modernismo literário de início de século: a exploração do íntimo da personagem (impossível imaginar Orlando sem uma boa dose de liberdade subjectiva) e dos limites da consciência.
Muito se poderia dizer sobre esta biografia magistralmente ficcionada pela escrita elegante, inteligente e ritmada de Virginia Woolf, até porque, como já se disse, a cada leitura o texto torna-se mais plural e as deambulações pelas quais a autora atinge epifanias sobre os temas que aborda parecem abrir novos caminhos. O comentário aqui feito constitui apenas uma leitura pessoal da obra.
Para quem gostar do livro (e muito facilmente Orlando se torna um fetiche literário), recomenda-se o filme, do mesmo nome, realizado por Sally Potter e que consegue recriar o ambiente mágico, por vezes irreal, e manter intacto o humor do livro.


Um pequeno slideshow do You Tube com o trailer do filme e a banda sonora a música chama-se "COMING" e é interpretada por JIMMY SOMERVILLE:




Este é o video de umas das cenas mais fantásticas quando Orlando conhece Shelmerdine:




Este é o video do final do filme:





Pequena biografia de Virginia Woolf:

Escritora inglesa nascida a 25 de Janeiro de 1882, no seio de uma família da alta sociedade londrina, e falecida a 28 de Março de 1941. O pai, Sir Leslie Stephen, era crítico literário. Virginia Stephen, nome de solteira, passou a infância numa mansão londrina com os três irmãos e tratada por sete criados, convivendo com personalidades como Henry James e Thomas Hardy. Virginia tinha 13 anos quando a mãe morreu e 22 quando chegou a vez do pai falecer. Os quatro irmãos foram então viver para Bloomsbury, um bairro londrino da classe média-alta. A irmã mais velha, Vanessa, de 25 anos, tomou conta dos restantes três.

Em sua casa foi formado o Grupo de Bloomsbury, onde se reúniam regularmente personalidades como os poetas T. S. Elliot e Clive Bell, o escritor E.M. Forster entre outros artistas e intelectuais. Os quatro irmãos, entretanto, viajaram pela Grécia e Turquia, mas pouco depois do regresso morreu Tholby, em Novembro de 1906. Virginia sofreu a primeira de muitas grandes depressões. Casou em 1912 com o crítico literário Leonard Woolf, que viria a ser o seu companheiro de toda a vida.

The Voyage Out, de 1915, marca o início da sua carreira de romancista, mas só dez anos depois, com Mrs Dalloway, considerado o seu primeiro grande romance modernista, chegou o reconhecimento como escritora reputada. Orlando, obra de 1928, confirmou as qualidades de Virgina Woolf.
Após obras como A Room of One's Own (Um Quarto Que Seja Seu), onde defende a independência das mulheres, The Waves (As Ondas) e The Years (Os Anos), em 1938 lançou um romance polémico, Three Guineas (Os Três Guinéus), na sequência da morte de um sobrinho na Guerra Civil espanhola.
Neste livro, Virginia Woolf defende que a guerra é a expressão do instinto sexual masculino.
A 28 de Março de 1941, pouco depois de ter lançado Between the Acts, Virginia Woolf suicidou-se, atirando-se a um rio com os bolsos cheios de pedras. Foi a segunda tentativa em poucos dias, interrompendo assim uma carreira marcada pela obtenção de diversos prémios literários, dos quais, contudo, só aceitou um, o Fémina, de França.

Paralelamente à actividade de escritora, Virginia, em conjunto com o marido, fundou e manteve uma editora, destinada a publicar textos experimentais, textos de amigos e traduções de russo. Intitulada Hobart Press, a editora funcionava em moldes caseiros, depois de em 1917 Leonard ter oferecido à esposa uma pequena tipografia.
Virginia Woolf. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2010. [Consult. 2010-07-03].




Admiro profundamente esta escritora pela sua sensibilidade, pela poesia da sua escrita e, por isso, não quis deixar de falar um pouco sobre a sua obra.
Seria para mim uma ousadia tentar transmitir, em poucas palavras, o enredo de qualquer uma das suas obras.
Lembrei-me então de falar aqui deste livro - Orlando - onde poderão sentir na íntegra o poder da sua narrativa, como nos domina, como nos absorve...

Boas leituras! Até breve Tágide.



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