O escritor inglês John Fowles, que em 1969 publicou A Amante do Tenente Francês, considerado um dos primeiros romances "pós-modernos", que em 1981 foi levado ao cinema por Karel Reisz, morreu em 2005, na sua casa de Lyme Regis (Inglaterra). Tinha 79 anos e estava doente há algum tempo.
Desde a década de 80 que Fowles tinha problemas de coração, na sequência de um enfarte que então sofreu.
Nascido em Leigh-on-Sea, no Essex, Fowles estudou num colégio interno e cumpriu o serviço militar entre 1945 e 47, tendo-se depois formado em Literatura Francesa, em Oxford, e ensinado inglês em Londres, na Grécia e em França.
A sua paixão pelas letras e pela cultura francesa torná-lo-ia num autor muito apreciado do outro lado do canal da Mancha, e também nos Estados Unidos o escritor seria mais popular do que na sua nativa Grã-Bretanha.
Escreveria mais tarde que sempre tinha querido escapar ao meio em que nasceu, já que ninguém na sua família tinha interesses literários ou propensão para as artes, e que se recordava de, quando jovem, ouvir os pais referirem-se a Picasso como "o tipo que não sabe desenhar. A boçalidade deles horrorizava-me".
John Fowles começou a escrever aos 20 anos e publicou O Coleccionador em 1963 (editado em Portugal pela Caminho), a história de um coleccionador de borboletas que decide juntar uma mulher à sua colecção. O livro foi um enorme sucesso de crítica e leitores, sendo adaptado ao cinema por William Wyler, com Terence Stamp, e deu a Fowles a independência financeira para se poder dedicar à escrita a tempo inteiro.
Após The Magus, em 1966, Fowles escreveu A Amante do Tenente Francês em 1969 (Presença).
Este transformou-se no seu livro mais célebre, uma combinação de pastiche de romance vitoriano e de romance experimental contemporâneo, onde o autor é narrador omnisciente e até personagem.
A adaptação da obra ao cinema por Harold Pinter, em 1981, com realização de Karel Reisz e interpretações de Jeremy Irons e Meryl Streep, contribuiu ainda mais para a sua popularidade, e para a fama do escritor. Sobretudo entre aqueles que nunca tinham lido um livro de John Fowles e nunca haveriam de ler outro.
Fowles assinou ainda obras como The Ebony Tower (1974), Daniel Martin (1977) ou A Maggot (1985), bem como alguns títulos de não ficção, ou ainda Wormholes (1998), que inclui apontamentos de diário e ensaios, entre outros.
Vivia em Lyme Regis, numa casa com vista para o canal da Mancha, e era extremamente reservado, queixando-se de ser "perseguido" pelos leitores, nomeadamente os fanáticos de A Mulher do Tenente Francês, tornado livro de culto e estudado em França e nos EUA a nível universitário.
"Tenho reputação de ser um homem de letras intratável, e não a tento desmentir. Mas não é verdade, em parte sou eu que a espalho", disse John Fowles em 2003, numa entrevista ao Guardian.
Na Inglaterra, este romance de 1969 possui status de clássico. Quando foi passado para o cinema, recebeu roteiro do respeitadíssimo dramaturgo Harold Pinter (1930-2008), Nobel de Literatura de 2005, e que tem dentre suas maiores influências Samuel Beckett e Frank Kafka. Já John Fowles (1926-2005), o autor do romance, escreveu poucos livros mas tem obra consistente e é até popular.
A história do romance "A Amante do Tenente Francês" é contada a partir dum curioso foco narrativo:
o autor, longínquo, examina os actos dos seus personagens vitorianos a partir do instrumental em uso nos anos 60, quando o livro foi escrito. Tal instrumental é basicamente freudiano.
Ao estilo de Machado de Assis, o autor às vezes conversa connosco, realizando uma bem-humorada interface entre a acção e o leitor. Costuma também brincar com o facto de estar “a perder o controle” sobre os personagens e, lá pela página 100, explica que está a alterar o plano inicial do romance por causa dos personagens, que decidiram outra coisa. Para completar, dá ao leitor a hipótese de escolher entre três finais distintos. É um delicioso investimento ler estas 484 páginas.
Adapatação ao cinema e protagonizado por dois excelentes actores, Meryl Streep e Jeremy Irons.
Para quem como eu adora a língua Inglesa e nunca experimentou antes ouvir um "audiobook" acho que é uma experiência inesquecível ouvir a voz de Jeremy Irons a narrar este romance. Até breve Tágide.
Gosto bastante da forma como apresentas as obras literárias. A emoção presente nas tuas agradáveis palavras é facilmente transmitida ao leitor. Dá vontade de ler todos os livros que apresentas.
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