'Lady Lilith', por Rossetti - Oil on canvas, dated 1868, 97.8 x 85.1cm
Bancroft Collection, Wilmington Society of Fine Arts, Delaware
Bancroft Collection, Wilmington Society of Fine Arts, Delaware
A Irmandade Pré-Rafaelita (Pre-Raphaelite Brotherhood ou PRB em inglês), também Fraternidade Pré-Rafaelita ou, simplesmente, Pré-Rafaelitas, foi um grupo artístico fundado em Inglaterra em 1848 por Dante Gabriel Rossetti, William Holman Hunt e John Everett Millais e dedicado principlamente à pintura.
Este grupo, organizado ao modo de uma confraria medieval, surge como reacção à arte académica inglesa que seguia os moldes dos artistas clássicos do Renascimento. Inseridos no espírito revivalista romântico da época, os pré-rafaelitas desejam devolver à arte a sua pureza e honestidade anteriores, que consideram existir na arte medieval do Gótico final e Renascimento inicial (Proto-Renascimento).
Ao se auto-denominarem pré-rafaelitas realçam o facto de se inspirarem na arte anterior a Rafael, artista que tanto influencia a academia inglesa e que é consequentemente criticado pelos pré-rafaelitas. A influenciar este grupo vão estar também os Nazarenos, uma confraria de pintores alemães que, no início do século XIX, se estabelece em Roma e tem como objectivo repor a arte paleocristã.
Este grupo, organizado ao modo de uma confraria medieval, surge como reacção à arte académica inglesa que seguia os moldes dos artistas clássicos do Renascimento. Inseridos no espírito revivalista romântico da época, os pré-rafaelitas desejam devolver à arte a sua pureza e honestidade anteriores, que consideram existir na arte medieval do Gótico final e Renascimento inicial (Proto-Renascimento).
Ao se auto-denominarem pré-rafaelitas realçam o facto de se inspirarem na arte anterior a Rafael, artista que tanto influencia a academia inglesa e que é consequentemente criticado pelos pré-rafaelitas. A influenciar este grupo vão estar também os Nazarenos, uma confraria de pintores alemães que, no início do século XIX, se estabelece em Roma e tem como objectivo repor a arte paleocristã.
Dante Gabriel Rossetti, A Noiva, 1865–66, Tate Gallery, Londres.
A Arte pela Arte:
Embora tratando-se de um grupo de artistas unidos em prol do mesmo objectivo, o grupo não se revelou homogéneo nas suas produções podendo-se observar uma ramificação em dois géneros diferentes dentro do movimento: por um lado alguns destes artistas (Millais, Holman Hunt) vão dedicar-se aos temas e problemas da sociedade actual cada vez mais materialista, utilizando para isso uma representação realista; por outro lado outros artistas (Rossetti, Edward Burne-Jones) vão ligar-se mais a temas medievais inspirados em Dante (cujo nome inspirou o primeiro nome de Rossetti) na sua Divina Comédia, em lendas como a do Rei Artur, cenas religiosas, carregando as suas composições de misticismo numa versão mais visionária. Pode-se afirmar que esta segunda variante dominou o movimento.
Independentemente do tema retratado, torna-se essencial que a obra de arte transmita uma ideia autêntica, fruto da individualidade do artista. Este não tem de submeter-se a regras rígidas e castradoras de representação, deve antes ser livre na sua criação artística. A sua arte vai-se opor ao método tradicional de representação da natureza prescindindo do trabalho de atelier e recusando a normalidade das composições académicas (ex: eliminando-se a linha do horizonte).
O artista aspira à beleza poética, à representação além da realidade visível: trabalha-se com a matéria da alma e a espiritualidade. Esta representação do “sonho” vai-se traduzir formalmente na busca da harmonia e equilíbrio entre os elementos. A pintura com base no desenho vai resultar em imagens quase ornamentais repletas de pormenores e detalhes fotográficos, onde o traçado fluido e gráfico busca realçar aspectos estéticos, independentemente da sua semelhança ou não com a realidade. Também na aplicação da cor vão-quebrar-se laços com as técnicas tradicionais surgindo agora cores luminosas, esmaltadas, que ajudam à sensibilidade estética de pinturas poéticas onde o romance e o erotismo, unidos a uma certa inocência, têm lugar de destaque.
O grupo:
O grupo pré-rafaelita vai ser composto maioritariamente por artistas saídos das academias reais que têm o objetivo comum de repor o conceito de arte pela arte, renegando a frivolidade da arte acadêmica. Considerando-se a si próprios como um movimento de reforma, embora sem ser considerado uma vanguarda na totalidade por fazer uso do historicismo e da representação da natureza pela observação, os pré-rafaelistas lançam uma publicação periódica denominada The Germ para promover as suas ideias.
Reunem-se no seu currículo algumas exposições geradoras de controvérsia pelo novo conceito de composição e tratamento de temas religiosos, assim como sucessos posteriores, quando seguidores do grupo, produzindo cada vez mais ao gosto vitoriano da época, acabam por vender obras a preços bem elevados.
Além de Ford Madox Brown, que preferiu trabalhar como independente, mas manteve-se em contato com o grupo, outros artistas vão ser influenciados pelo estilo linear dos pré-rafaelitas, como é o caso de William Morris. Este movimento será de extrema importância para a arte dos finais do século XIX e despontar do século XX, nomeadamente para a Arte Nova e o Simbolismo.
A partir de 1851 John Ruskin vai ser um defensor inicial e patrono da Irmandade Pré-Rafaelita e os seus escritos vão surtir grande influência nas idéias medievalistas do grupo.
Principais artistas Pré-Rafaelitas:
William Holman Hunt (pintor)
John Everett Millais (pintor)
Dante Gabriel Rossetti (pintor, poeta)
Edward Burne-Jones (pintor)
Artistas e figuras relacionadas:
Ford Madox Brown (pintor, designer)
John Ruskin (crítico)
William Morris (designer gráfico, escritor)
James Collinson (pintor)
William Michael Rossetti (crítico)
Frederic George Stephens (crítico)
Thomas Woolner (escultor, poeta)
Thomas Cooper Gotch (pintor)
Arthur Hughes (pintor, ilustrador)
Jane Morris (modelo)
May Morris (designer)
Christina Rossetti (poeta)
Elizabeth Siddal (pintora, poeta e modelo)
Algernon Swinburne (poeta)
John William Waterhouse (pintor)
Sobre Dante Gabriel Rossetti em particular:
Nasceu em Londres, Inglaterra, em 12 de Maio de 1828, e morreu em Birchington-on-Sea, no Kent, Inglaterra, em 9 de Abril de 1882.
Filho de Gabriel Rossetti, um controverso estudioso italiano da obra de Dante, exilado político em Londres, e de Frances Polidori, também de origem italiana, era o segundo de quatro irmãos, sendo o seu nome original Gabriel Charles Dante Rossetti. A irmã mais velha tornou-se uma freira anglicana, tendo publicado um estudo sobre Dante; o irmão William tornou-se o historiador e arquivista do movimento Pré-Rafaelita, tendo editado os poemas do irmão; a irmã mais nova, Cristina, foi uma poeta (ou poetisa) tão famosa como o irmão.
Começou a estudar na escola secundária do King's College de Londres, de 1836 a 1841, passando por uma escola de desenho antiquada, e acabando na escola de antiguidades da Royal Academy britânica em 1845. Nessa época descobriu o pintor e poeta do século XVIII William Blake, crítico feroz do academismo na pessoa do seu contemporâneo Joshua Reynolds. Gabriel Rossetti, seguindo o seu modelo, decidiu-se a atacar a trivialidade da pintura vitoriana, sobretudo a obra de Edwin Landseer.
Discípulo de Ford Madox Brown, entrou em contacto com os «Pré-Rafaelitas» alemães, o nome por que eram conhecidos os «Nazarenos», um grupo de pintores que criaram em Viena, em 1809, uma cooperativa chamada Irmandade de São Lucas, que mais tarde foi viver para Roma. Estes criadores usavam pinturas medievais italianas e alemãs como modelos para as suas obras, tentando um regresso à pureza de estilo e de objectivos da arte anterior ao Renascimento.
Tendo como pano de fundo os grandes movimentos revolucionários de 1848, foi devido aos esforços de Rossetti que se criou nesse ano em Inglaterra a Irmandade dos Pré-Rafaelitas, formada por sete membros todos eles antigos estudantes da Royal Academy, tirando o seu irmão mais novo. O objectivo de Rossetti era vasto, dando como objectivos à Irmandade a poesia e o idealismo social, para além da pintura, que via como devendo romantizar o passado medieval, e tinha como base a obra do crítico de arte John Ruskin, Modern Painters, publicada a partir de 1843.
Foi o que mostrou nos seus quadros «A Infância de Maria», de 1848, e na «Anunciação», de 1850, de estilo simples mas de grande simbolismo. Obras que se relacionavam com o seu poema «The Blessed Damozel» publicado no 1.º número da revista pré-rafaelita «The Germ», que tinha como subtítulo «Pensamentos sobre a Natureza na Poesia, Literatura e Arte». A crítica, que Rossetti nunca aceitou bem, não lhe foi favorável e o pintor refugiou-se na aguarela, passando a ilustrar as obras de Shakespeare, Dante e Browning, o grande poeta da época vitoriana.
Em 1854, numa época em que o grupo se começava a dissolver, Rossetti ganhou um poderoso e exigente patrono em Ruskin, o seu mentor original, o que lhe granjeou uma nova vaga de admiração, atraindo ao grupo os estudantes de Oxford, Edward Burne-Jones e William Morris, com os quais iniciou a segunda fase do movimento Pré-Rafaelita. O grupo dedicou-se, a partir de 1856 e com base nas obras de Thomas Malory, Morte Darthur, e de Tennyson, Idylls of the King, a recriar a época do rei Artur. Ligado a este entusiasmo romântico pelo passado lendário, que divergia substancialmente do ideal inicial de um realismo de acordo com a natureza, estava a vontade de reformar as artes decorativas. O novo grupo publicou o The Oxford and Cambridge Magazine para divulgar as suas posições
O contrato para a realização de um tríptico para a catedral de Llandaff, em Cardiff no País de Gales, pintado a partir de 1858, levou-o a aceitar decorar o salão de debates do edifício da Oxford Union, a associação de estudantes da Universidade de Oxford, criada para ser um local de debate livre, fora da organização constrangedora dos Colégios universitários. A tarefa, conhecida pela «Campanha Alegre» (Jovial Campaign) acabou em desastre devido à ignorância das técnicas de pintura moral, mas mostrou ao grupo que os seus ideais se podiam alargar às artes oficinais.
Em 1860 Gabriel Rossetti casou com Elizabeth Siddal, que tendo começado a posar para toda a Irmandade, acabou por se tornar seu modelo exclusivo. O casamento acabou em tragédia, em 1862, quando Siddal ingeriu uma dose excessiva e fatal de láudano - um medicamento à base de ópio. No caixão da mulher Rossetti colocou, num gesto romântico e insensato, toda a sua obra poética.
Após a morte da mulher Rossetti mudou não só de zona residencial, mudando-se das áreas ribeirinhas de Londres para a mais aristocrática zona de Chelsea, como de estilo, que se tornou mais sensual e estilizado. Os temas literários foram abandonados pelos retratos a óleo de belezas mundanas. A nova fase, de que «The Blessed Damozel», pintado entre 1871 e 1879, é um dos mais perfeitos exemplos, tornou-o muito popular entre os coleccionadores, tornando-o um homem abastado.
Após a morte da mulher Rossetti mudou não só de zona residencial, mudando-se das áreas ribeirinhas de Londres para a mais aristocrática zona de Chelsea, como de estilo, que se tornou mais sensual e estilizado. Os temas literários foram abandonados pelos retratos a óleo de belezas mundanas. A nova fase, de que «The Blessed Damozel», pintado entre 1871 e 1879, é um dos mais perfeitos exemplos, tornou-o muito popular entre os coleccionadores, tornando-o um homem abastado.
Mas a publicação em 1870 dos seus poemas, recuperados anteriormente pela exumação da mulher, bem recebidos de início, provocaram um violento ataque do crítico literário Robert Buchanan, acusando a poesia de Rossetti de indecente, o que juntos aos remorsos, ao álcool e ao cloral, ingerido para debelar as persistentes insónias, terá provocado o colapso de Rossetti em 1872.
Dante Gabriel recuperou a saúde, retomando a pintura e a escrita de poesia, mas ficou muito debilitado, tendo passando, até 1874, bastante tempo em Oxford, tendo ao lado Jane Morris, mulher de William.
Até à sua morte, no Domingo de Páscoa de 1882, Rossetti publicou uma edição muito revista e alargada dos seus poemas, assim como um livro com baladas e sonetos, ambos publicados em 1881.
Fontes:
Bibliografia
CALADO, Margarida, PAIS DA SILVA, Jorge Henrique, Dicionário de Termos da Arte e Arquitectura, Editorial Presença, Lisboa, 2005, ISBN 20130007
HINDLEY, Geoffrey, O Grande Livro da Arte - Tesouros artísticos dos Mundo, Verbo, Lisboa/São Paulo, 1982
JANSON, H. W., História da Arte, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1992, ISBN 972-31-0498-9
KRAUßE, Anna-Carola, Geschichte der Malerei – Von der Renaissance bis heute, Tandem Verlag, Germany, 2005, ISBN 3-8331-1404-5
BBC 2- TV Drama 'Desperate Romantics' (1)
BBC 2- TV Drama 'Desperate Romantics' (2)
BBC 2- TV Drama 'Desperate Romantics' (3)
Notas sobre a adaptação á televisão pela BBC da vida de alguns destes "Desperate Romantics" :
"(...)More information and new promo photos has been released for BBC 2′s new drama, Desperate Romantics, which will air in six-parts. The series highlights the life of the artistic Pre-Raphaelite Brotherhood, founded in 1848 and known for their revival of medieval romanticism.
Starring as the maverick group of English artists, their associates and muses are: Aidan Turner (Being Human, The Clinic), Rafe Spall (A Room With A View, Hot Fuzz), Tom Hollander (John Adams, Pride And Prejudice), Samuel Barnett (Beautiful People, The History Boys), Zoe Tapper (Survivors, Demons), Amy Manson (Torchwood), Sam Crane (Church Going) and Jennie Jacques (The Bill).
Amidst a backdrop of alleys, galleries and flesh-houses of 19th-century industrial London, Desperate Romantics follows the life and love affairs of the Pre-Raphaelite Brotherhood, a group of revolutionary artists as well-known for their intertwining love lives as for their ground-breaking paintings.
The scandalous love triangles with their models became the subject of much gossip among their contemporaries, particularly as these relationships often crossed the class barriers of polite Victorian society.
This series, written by Peter Bowker has “bodice-ripper” written all over it; hopefully it will be successful enough to merit dramas about other literary and artistic movements in England (hint, hint . . . the Romantic Poets)."
Aiden Turner no papel de Dante Gabriel Rossetti
Este tema é tão vasto e apaixonante e tem tantas ligações com outras obras e outras memórias que não chega o arquivo de hoje para dizer tudo. Volto a falar deste tema no num próximo arquivo.
Até breve! Tágide
Sem comentários:
Enviar um comentário