Foto de JL - 2003
João Aguiar
(1943 - 2010)
"(...)Fecho os olhos para sentir melhor a vibração deliciosa que me sacode. Respiro fundo, bem fundo, para me encher com o ar perfumado de pinheiros, aquecido pelo Sol.(...)"
João Aguiar, A Catedral Verde
"O escritor João Aguiar, de 66 anos, morreu hoje, em Lisboa, vítima de cancro, disse à Lusa fonte próxima da família.
João Casimiro Namorado de Aguiar, nascido a 28 de Outubro de 1943, em Lisboa, escreveu mais de duas dezenas de romances e criou duas séries de televisão destinadas ao público mais jovem – “Sebastião e os Mundos Secretos” e o “Bando dos Quatro”, no qual ele próprio figura na personagem do Tio João."
adaptação de in Ionline 3/06/2010
João Casimiro Namorado de Aguiar nasceu a 28 de Outubro de 1943 e viveu a infância entre Lisboa - a sua cidade-natal - e a Beira, em Moçambique. A mãe ensinou-o a ler para mantê-lo sossegado na cama, durante um longo período de doença, e de leitor interessado passou rapidamente a aspirante a escritor.
Aos oito anos, tentou ditar um livro de aventuras à irmã Maria João mas o sentido crítico dela arrasou-lhe as pretensões. Insistiu com novas obras que foi deitando para o lixo e teve mesmo um “primeiro” livro que só não viu a luz do dia porque a editora faliu antes. Só depois dos 40 anos publicou o primeiro romance, na Perspetivas & Realidades de João Soares: “A Voz dos Deuses”, uma ficção histórica centrada na figura de Viriato.
Seguiram-se duas dezenas de romances que o levaram a estudar a história mais remota de Portugal - regressou aos primórdios para falar de Sertório e publicou até um trabalho não ficcionado sobre o menino do Lapedo. Viajou para Macau com a ficção para escrever “Os Comedores de Pérolas” e “O Dragão de Fumo”.
Pelo meio, João Aguiar criou duas séries destinadas ao público mais jovem - “Sebastião e os Mundos Secretos” e o “Bando dos Quatro” e fez também o libreto para a ópera “A Orquídea Branca” de Jorge Salgueiro, estreada em 2008.
A doença que veio a provocar-lhe a morte impediu-o de concluir o livro que preparava sobre a revolução de 1383.
João Aguiar frequentou em Lisboa os cursos superiores de Direito e Filosofia mas foi em Bruxelas que se licenciou em Jornalismo, profissão que entretanto tinha começado a exercer. Na Bélgica, fez um pouco de tudo, desde lavar escadas a trabalhar no Turismo de Portugal.
De regresso a Portugal, fez o serviço militar e uma comissão em Angola no sector da acção psicológica, produzindo rádio para as tropas.
Considerou-se sempre jornalista, mesmo passados largos anos desde que abandonara a actividade profissional. Começou pela RTP - onde também coordenou uma série da Rua Sésamo - e passou depois por jornais como "Diário de Notícias", "A Luta", "O País". Fez rádio no Canadá, onde trabalhou com Henrique Mendes.
Dizia-se um “monárquico não tradicionalista”, justificava-o “por uma questão pragmática”. O último romance que publicou - “O Priorado do Cifrão” - era uma “charge” ao mundo criado por Dan Brown.
Numa autobiografia irónica que escreveu para o "Jornal de Letras" em 2005, João Aguiar concluía: “A minha vida não dava um livro, e ainda bem. Em compensação, o facto de os meus livros darem uma vida - boa ou má, não importa para o caso - , esse facto devo-o, em grande parte, aos momentos de não-glória que acabo de relatar. E estou-lhes muito grato.”
Jornal Público 3/06/2010
Principais obras:
Foto de Revista Ler - 2007
Entre as suas obras contam-se títulos como:
Uma incursão no esoterismo português (1983)
A voz dos deuses (1984)
O homem sem nome (1986)
O trono do altíssimo (1988)
O canto dos fantasmas (1990)
Os comedores de pérolas (1992)
A hora de Sertório (1994)
A encomendação das almas (1995)
Navegador solitário (1996)
Inês de Portugal (1997)
O dragão de fumo (1998)
A catedral verde (2000)
Diálogo das compensadas (2001)
Uma deusa na bruma (2003)
O sétimo herói (2004)
O jardim das delícias (livro) (2005)
O tigre sentado (livro) (2005, 2ª ed.)
Lapedo – uma criança no vale (2006)
O priorado do cifrão (2008)
João Aguiar também é autor de colecções infanto-juvenis:
O Bando dos Quatro
Sebastião e os Mundos Secretos.
Outras obras:
A Orquídea Branca, libreto para a ópera com música de Jorge Salgueiro, (estreada a 27 de Outubro de 2008)
Eu vi morrer o III Reich, de Manuel Homem de Mello (Coordenação e comentários de João Aguiar) (Edições Vega, Lisboa, s.d.)
Escritor a quem o jornalismo e a literatura portuguesa muito devem e que, através dos seus romances, deu um contributo importante para a divulgação do interesse pela nossa história, sobretudo entre as gerações mais novas.
Mais do que lamentar esta perda o melhor que podemos fazer é "celebrar" a sua obra lendo os seus livros!
Até sempre João Aguiar! Tágide
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