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Kazuo Ishiguro foi elogiado no Sunday Times por «ampliar as possibilidades da ficção».
Em Nunca Me Deixes, que se encontra certamente entre as suas melhores obras, conta-nos uma extraordinária história de amor, perda e verdades escondidas.
Kathy, Ruth e Tommy cresceram em Hailsham – um colégio interno idílico situado algures na província inglesa. Foram educados com esmero, cuidadosamente protegidos do mundo exterior e levados a crer que eram especiais. Mas o que os espera para além dos muros de Hailsham? Qual é, de facto, a sua razão de ser?
Só vários anos mais tarde, Kathy, agora uma jovem mulher de 31 anos, se permite ceder aos apelos da memória. O que se segue é a perturbadora história de como Kathy, Ruth e Tommy enfrentam aos poucos a verdade sobre uma infância aparentemente feliz — e sobre o futuro que lhes está destinado.
Contornar o banal, a simplificação do pensamento, inventar novos modos de dizer o que antes já foi dito, pegar num tema e dar-lhe a volta, adaptar o tema à voz que já se possui - regras evidentes para a produção de um bom livro.
Não é excessivamente importante a originalidade do material de base, pode ser até um constragimento para a prossecução da obra; o autor acaba por investir grande parte do seu esforço naquela ideia inicial absolutamente original e pode desleixar-se no aprimoramento da forma.
Em Nunca me Deixes, Ishiguro enveredou por caminhos estranhos no seu universo criativo, poder-se-ia ter pensado. Mas de rompante somos confrontados logo nas primeiras páginas com todas as marcas de autor a que estamos habituados. O lento desenrolar dos acontecimentos acaba por confirmar a impressão inicial.
A mestria do escritor inglês revela-se no uso de um estilo que finge ser desinteressado, afastado da pomposidade barroca dos primeiros livros.
A narrativa é um extenso flashback, um salto em direcção ao passado idílico de Kathy, o narrador, realizado com um primeiro objectivo: reunir tudo que foi dito, tudo o que aconteceu que na altura parecia destituído de sentido, e reconstituir uma linha coerente que concorresse para o desfecho que é pressentido nas primeiras páginas, o fim de Kathy como "Carer".
A narrativa é um extenso flashback, um salto em direcção ao passado idílico de Kathy, o narrador, realizado com um primeiro objectivo: reunir tudo que foi dito, tudo o que aconteceu que na altura parecia destituído de sentido, e reconstituir uma linha coerente que concorresse para o desfecho que é pressentido nas primeiras páginas, o fim de Kathy como "Carer".
Mas este flashback, pontualmente interrompido por outras analepses, pretende ser também outra coisa: o resgate de uma infância que passou rapidamente pela vida de Cathy, Tommy e Ruth. A amizade que unia os três, como nasceu, cresceu e se alimentou das suas forças e das suas fragilidades, das peculiaridades e imperfeições que, noutro lugar, os poderiam afastar.
Atribuindo sentido a essa infância perdida, Ishiguro acaba por compor de forma subtil, mas resoluta, personagens de corpo inteiro, dotadas de uma espessura que, ao invés de as elevar acima do comum dos mortais, as coloca a um nível próximo do leitor, quase palpável.
Não querendo adiantar muito mais sobre o enredo do livro, acrescento que a humanidade que ressume da vida quase trágica (e escrevo quase porque a serenidade com que as personagens aceitam o seu destino é desarmante) de Kathy, Tommy e Ruth, é o nó que acaba por ser desatado no final, o que de modo irreversível me colocou de um lado da discussão ética que o tema do livro levanta.
Obras assim, que se dirigem directamente ao entendimento do leitor, e o questionam sem pudor, são raras.
KAZUO ISHIGURO é autor de cinco outros romances, três dos quais editados pela Gradiva — Os Despojos do Dia (1989, vencedor do Booker Prize), Os Inconsoláveis (1995, vencedor do Cheltenham Prize) e Quando Éramos Órfãos (2000, nomeado para o Booker). Em 1995 foi feito OBE (Oficial da Ordem do Império Britânico) por serviços prestados à literatura e em 1998 recebeu a condecoração de Chevalier de L’Ordre des Arts et des Lettres da República Francesa.
Adaptação ao Cinema:
Director: Mark Romanek
Writers: Kazuo Ishiguro (novel)
Alex Garland (screenplay)
Main Cast:
Carey Mulligan as Kathy.
Keira Knightley as Ruth.
Andrew Garfield as Tommy.
Domhnall Gleeson as Rodney.
Sally Hawkins as Miss Geraldine, a teacher at Hailsham, the boarding school.
Charlotte Rampling as Miss Emily, headmistress of the boarding school.
Andrea Riseborough as Miss Lucy, a teacher at the boarding school.
Nathalie Richard as Madame, a mysterious figure at the boarding school.
Ella Purnell as the younger version of Ruth.
Isobel Meikle-Small as the younger version of Kathy.
Charlie Rowe as the younger version of Tommy.
Never Let Me Go é um dos filmes mais antecipados do ano, adaptado do romance homónimo de Kazuo Ishiguro. O filme relata a história de três amigos que foram antigos alunos de um colégio interno numa sociedade distópica, onde eram criados para serem dadores de órgãos.
Fotos de http://www.foxsearchlight.com/neverletmego/
Realizado por Mark Romanek (argumentista de One Hour Photo) e adaptado por Alex Garland (28 Days Later), o filme é protagonizado por Keira Knightley (Pride & Prejudice), Carey Mulligan (An Education) e Andrew Garfield (The Imaginarium of Doctor Parnassus). Never Let Me Go estreia em Outubro de 2010.
A não perder! entretanto porque não ler o livro!! Até breve, Boas leituras Tágide.
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