Walt Whitman (1819 - 1892)

Walt Whitman (1819 - 1892)
(...) What do you see, Walt Whitman? Who are they you salute, and that one after another salute you? (...)

11 de julho de 2010

O filme "I Am Love" de Luca Guadagnino



“Tilda Swinton é sublime num filme gloriosamente operático que reinventa o melodrama clássico e a saga familiar para um tempo em que eles já não existem.

Atente-se na "chave" que dá título a este grande filme: Maria Callas, ela própria, interpretando a ária da "Mamma Morta" de Giordano, na banda-sonora do "Filadélfia" de Jonathan Demme, que Tilda Swinton vê uma noite na cama à beira de adormecer, antes de o marido chegar e mudar de canal sem sequer lhe perguntar o que está a ver. A frase que Callas canta é "Io sono l'amore" - "eu sou o amor" - e é nesse momento em que o marido a ignora como mera presença utilitária que a divina, gloriosa Tilda toma perfeita consciência do seu papel na poderosa família milanesa. Ela é a verdadeira "mamma morta" (aliás, mais tarde, alguém lhe dirá "tu não existes"), até o amor lhe cair do céu, numa noite de Inverno, na pessoa de um visitante inesperado que nem sequer fica para tomar café.


É complicado explicar o que se passa em "Eu Sou o Amor" sem correr o risco de menorizar a terceira ficção de Luca Guadagnino, porque o que eleva o filme ao estatuto de obra-prima é a abordagem operática, virtuosa, formalista, estilizada, hiper-romântica e pós-modernista com que o cineasta siciliano encara o melodrama clássico e a saga familiar, o modo como ele instala no classicismo do género um corpo estranho através de Tilda Swinton. Vamos, ainda assim, tentar:

- conhecemos os Recchi, poderosa família industrial milanesa, à volta da mesa do jantar de aniversário do patriarca, que acaba de decidir deixar o negócio de família ao filho e ao neto. Nesse jantar que respira um travo de passado glorioso, de aristocracia fora-de-tempo, percebemos também o papel que as mulheres nele desempenham: Rori, a matriarca, fiel guardiã da tradição familiar; Betta, a neta, de temperamento artístico, que começa a sentir-se limitada pelas expectativas da família; e Emma, a mulher do filho, a anfitriã perfeita, uma mulher discreta que aceitou representar o papel que lhe foi distribuído. Mas que, muito rapidamente, compreendemos que não lhe chega.

Emma é, evidentemente, Tilda Swinton, e a sua presença introduz o pauzinho na engrenagem da saga familiar; é o tal "corpo estranho" de que falávamos - não apenas pela sua personagem ser uma "intrusa" que, aceite pela família, nunca se sentiu inteiramente parte dela, mas também porque a presença física da actriz, pálida, alta, observadora, cria um contraste, lança um desequilíbrio, introduz uma nota de dissonância no conforto luxuoso que a rodeia. Esse contraste é depois amplificado pelas cenas de exteriores rurais onde se desenrola o "affaire" de Emma, de uma sensualidade exacerbada que se opõe à rigidez estruturada do palacete dos Recchi. Guadagnino mantém essa emoção a borbulhar subterraneamente durante todo o filme (sabiamente sublinhada pela música do compositor minimal John Adams), para apenas a deixar sair em momentos judiciosamente escolhidos, como uma panela de pressão que já quase não consegue aguentar a tensão.

Foto de http://www.iamlovemovie.com/


É inevitável pensarmos em mestre Visconti (há um travo de "O Leopardo" a passar por aqui, um fôlego de grande ópera italiana) ou em mestre Sirk (a transcendência da história banal através da encenação arrebatada e gloriosa), mas o que é notável em "Eu Sou o Amor" é que Guadagnino consegue marcar a distância dos mestres, criar o seu próprio modo de os actualizar e modernizar, sem medo de correr riscos e sem se retrair para não parecer ambicioso. Fá-lo com a preciosa ajuda da divina Tilda, a comprovar como é uma das maiores actrizes contemporâneas, e de um elenco impecável onde encontramos o actor e encenador Pippo Delbono e os veteranos Gabriele Ferzetti e Marisa Berenson (é impossível não recordar "Morte em Veneza"...), como quem sublinha que a estrutura rígida do melodrama exige o tal corpo estranho para rebentar por todos os lados e construir algo de novo que se insere numa tradição e a reinventa sem pruridos.

"Eu Sou o Amor" é uma obra-prima. “

Crítica Ípsilon por:

Mário Jorge Torres


Foto de http://www.iamlovemovie.com/

Ano: 2009
País: Itália
Género: Drama
Duração: 120 min.
Classificação: M/12
Distribuidora: Ecofilmes/Vitória Filme
Realização: Luca Guadagnino
Intérpretes: Tilda Swinton, Flavio Parenti, Edoardo Gabbriellini
http://www.iamlovemovie.com/


A minha opinião:

Achei o filme de uma beleza extraordinária, na riqueza das personagens, na paisagem e na música.

A matriarca é encantadora, corajosa e é certamente uma referência para muitas mulheres da sua geração.

Gostei do ambiente bucólico, do ímpeto da paixão, da cozinha gourmet, da simplicidade e da beleza natural dela, a postura, os silêncios, que dizem mais do que as palavras.

A emancipação das mulheres de meia-idade é aqui retratada, a sensualidade de uma mulher madura hoje em dia tornou-se bastante real e é vivida com uma outra intensidade e saber. A nova geração, os filhos têm ajudado as mães a libertaram-se e a saberem mais de si, inovando ou procurando novas experiências, aqui bem retratada numa das cenas entre mãe e filha.
Achei romântico e cheio de erotismo.

Em detalhe:

A gula e a luxúria têm ligações ancestrais, não por se inscreverem na lista dos pecados capitais da Igreja, mas por, muitas vezes, uma conduzir à outra. Na Antiguidade, os grandes banquetes precediam grandes orgias. E ainda hoje, numa espécie de ritual, depois de um jantar a dois adivinha-se uma noite de amor. O prazer de comer e o prazer de, enfim, comer parecem manter-se intimamente ligados, como se o êxtase gastronómico implorasse o carnal. Há quem se apaixone por sabores, como se vê neste filme, e Eu sou o Amor, do italiano Luca Gudagnino .



Foto de http://www.iamlovemovie.com/

A protagonista deste filme apaixona-se pelo cozinheiro através dos seus cozinhados. Quando sensualmente saboreia os seus pratos. E é pecado, já que, tal como Roberto Carlos cantava: "Tudo o que eu gosto é imoral, ilegal ou engorda".

A protagonista deste filme italiano é uma aristocrata que se delicia com a rebuscada conjugação de sabores nouvelle cousine, com design, preparada a preceito por um cozinheiro de elite.

O filme Eu sou o Amor é um banquete da aristocracia milanesa, daqueles que anos depois ainda se pensa:
- comi tão bem naquele dia. Àqueles que se perguntam, por onde tem andado o cinema italiano de Rosselini e Visconti, de que nem Moretti nem Benigni são sucessores, aqui têm uma boa resposta.

Eu sou o amor é um filme eminentemente viscontiniano, a começar pelo ambiente aristocrata em que a história se desenlaça e a acabar pelo magistral domínio do movimento da câmara de Luca Gudagnino. É um filme de uma sumptuosidade rara, com a espessura psicológica de um romance clássico russo e a temática universal do amor. Sobretudo da explicação de um amor impossível e impassível perante as atrocidades da vida.

Tilda Swinton, que faz de russa que se casou com um aristocrata rico, cumpre um dos melhores papéis da sua carreira. O realizador já lhe tinha dedicado o documentário The Love Factory (2002), e aqui fá-la brilhar, inclusive quando a actriz inglesa finge que não sabe inglês. O percurso da personagem é de tal forma rico, que esta começa no pomposo e luxuoso almoço de família no seu palacete em Milão e acaba nua numa gruta na estrada de San Remo. A ascensão e queda dos Recchi.

 O filme "I Am Love" - Official Trailer HD 2010:



Sinopse em Inglês:

"I AM LOVE":
- tells the story of the wealthy Recchi family, whose lives are undergoing sweeping changes. Eduardo Sr., the family patriarch, has decided to name a successor to the reigns of his massive industrial company, surprising everyone by splitting power between his son Tancredi, and grandson Edo. But Edo dreams of opening a restaurant with his friend Antonio, a handsome and talented chef. At the heart of the family is Tancredi's wife Emma (Tilda Swinton), a Russian immigrant who has adopted the culture of Milan. An adoring and attentive mother, her existence is shocked to the core when she falls quickly and deeply in love with Edo's friend and partner Antonio, and embarks on a passionate love affair that will change her family forever.

"AN AMAZING FILM. It is deep, rich, human.”

-Roger Ebert, Chicago Sun Times

“ATTENTION ALL MOVIE BUFFS: GET READY TO HAVE YOUR MINDS BLOWN. A bold and thrilling masterpiece – the introduction of a major talent to the world’s stage. The film gets better as it goes along, culminating in a rapturous ending that exhilarates the viewer in a manner I've never felt in a movie.”

-Rene Rodriguez, Herald

“A rich family drama that is both a sensual celebration of bourgeois pleasures and a showcase for Tilda Swinton.”

-Kenneth Turn, LA Times

“SPRAWLING, AMBITIOUS… AMAZINGLY ACCOMPLISHED.”

-Mark Olsen, LA Times


A não perder ainda em exibição em Lisboa! Bom filme, até breve Tágide!

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